terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ternura


A imagem é bonita: são velhos e vão de mãos dadas. Têm um aspecto simples e rude, desajeitado, de quem ensinou a vida a ganhar o pão em cada dia. A contemplação da ternura das suas silhuetas a caminharem assim juntinhos à minha frente enterneceu-me e lembrou-me as lágrimas que chorei devagarinho há poucos dias quando vi uma rapariga jovem e bonita a ajudar uma idosa coxa a atravessar uma rua perigosa. Fiquei tão feliz, como se tivesse encontrado uma prova irrefutável para comprovar uma teoria: o mundo está mesmo povoado de pessoas boas.

Rapidamente me aproximei dos velhinhos e quando os ultrapassei já eles estavam junto ao seu carro. Ele dentro a tentar abrir a porta dela que do lado de fora resmungava que não conseguia entrar. Ele esticava-se todo e ia puxando o manípulo, barafustando por seu lado. Quebraram qualquer coisa naquele momento não na porta, nem no carro, mas no cenário que tinham protagonizado. Partiram o vidro da moldura engalanada de quadro de museu e saltaram para a vida concreta, fraca, vil, mas linda ainda assim.

E eu segui, com um sorriso nos lábios, divertida com a rabugice deles.