segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Arrepio

O cheiro de um crime é horrível, mesmo que tenha acontecido há 20 anos, ainda que nessa altura nem tivéssemos nascido ainda.
A Tatyana não só não tinha ainda vindo a este mundo, como ainda por cima é de bem longe, mas tem os olhos embaciados de espanto e a pele inquieta de tremor.
Descobriu que a barraca que ela e a família reconstruíram debaxo da linha do comboio e que tinha sido em tempos -já depois de ter abrigado o assassinato- destruída por máquinas retroescavadoras foi palco de um episódio atroz.
E soube disso pela televisão, mas aquele odor a sangue agora persegue-a e dá-lhe náuseas. Ela sabe que o mal existe e é concreto, tão real como o barulho do comboio que passa de 5 em 5 minutos e abafa os gritos que aquela mulher estrangulada deve ter vomitado.