Neste país as pessoas parecem mais altas do que na Roménia,
mas é por as ver de baixo para cima que acho isso. Sento-me no passeio, encostada
a um parquímetro, em cima de um cartão que não evita que sinta o frio e a
humidade do chão. Seguro uma garrafa de plástico cortada com 2 moedas dentro
que vou abanando para lembrar quem passa de me dar uma esmola, como quem agita
uma roca para atrair a atenção de um bebé. Hoje não trouxe o meu rico menino,
está muito constipado, ficou com a minha prima. De vez em quando dou uma
espreitadela para os lados da barraca, embora não a veja daqui, mas se não vem
lá ninguém a descer a encosta é porque deve estar tudo bem.
Se estiver bom tempo, prefiro ficar na rua, não há
seguranças a chatear-me e há mais distracções, além de não ficar tão escondida
pelas multidões. Aqui há muitos prédios, alguns bem impressionantes, por mais
que tente puxar pela cabeça não consigo ter ideia do que toda esta gente faz lá
dentro. Sei que vão sempre com muita pressa e que é com o que ganham lá que se
vestem bem e comem tudo o que querem, mas o que fazem não faço ideia.
Compreendo o trabalho do restaurante e das cafetarias aqui da rua e também sei
o que tem de fazer o chinês da loja de roupa, mas nos andares superiores não
consigo imaginar. Habituei-me a ver estas pessoas e estas ruas e estas lojas como
paisagem, fazem parte de outra realidade à qual eu não pertenço e por isso acabo
por não as ver, nem aos seus carros, nem aos sacos e bolsas que carregam. Vejo,
isso sim, os polícias, os varredores de rua, os carteiros e os taxistas, que me
insultam, desprezam e expulsam da rua.
Ganhei 5,15€ hoje, vou à loja do chinês comprar massa para o
jantar, passo no supermercado e compro vinho para o marido e com o que me
restar hei-de ir à farmácia comprar alguma coisa para a tosse do menino. Depois
atravesso a linha, subo a encosta da estrada, contorno a “horta” do Ti Manel a quem comprarei cenouras e
chegarei à nossa barraca. Espero que o Ronan esteja melhor. Hei-me abraçá-lo e
dar-lhe mama.