terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ternura II

Impecavelmente bem vestido, com um fato de fazenda apropriado para o tempo frio, aparenta ter uns 80 anos. É moreno, encorpado e tem olhos esbugalhados com umas olheiras tão profundas que parece já ter sido ali o sítio dos olhos agora empurrados para cima. A cara larga suporta ainda uma boca em forma de curva descendente, relaxada.
Sento-me à sua frente no metro e não fico indiferente ao ramosque leva na mão com a mesma naturalidade com que seguraria uma bengala ou um guarda-chuva.
São duas orquídeas em tons neutros, atadas uma à outra por uma linha branca de costura.

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