segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

2.ª Etapa CPIS


Começámos o Caminho no ponto onde tínhamos terminado na última etapa: Parada de Aguiar. Dali até Vila Pouca, sempre em linha reta, parecia rápido, mas não foi tanto assim. A ponte imponente da autoestrada corta completamente a paisagem, vê-se de todo o lado e dá-nos a sensação de aniquilação: cada passo que damos parece não ter impacto perto dela. A mim, causou-me estranheza passar por baixo dela, não só pelo impacto ambiental que representa, mas também pela imagem dos suicídios que sei que ali aconteceram. Para quebrar a sensação desconfortável, concentrámo-nos no cheiro da vacaria que ficava exatamente debaixo da ponte.
Chegados a Vila Pouca de Aguiar, contornámos o Intermarché e depois fomos parar a uma rua pedonal. Nunca lá tinha estado. Comportámo-nos como verdadeiros turistas, tirando fotografias numa fonte, numa escultura moderna e noutros pontos de interesse. A minha mãe mostrou-nos então a clínica dentária onde arrancou o seu primeiro dente aos 16 anos.
Depois, seguimos para uma aldeia onde havia uma ponte romana que dava acesso a uma estrada também romana que nos levaria até às Pedras Salgadas. Nessa aldeia, cruzámo-nos com um homem que seguia pacato a sua viagem numa carroça conduzida por um burro. Ao longo do caminho, havíamos de nos cruzar com mais 4 ou 5.
O caminho era paralelo a um rio, ao lado de lameiros, e estava cheio de água, o que aconteceu durante toda a etapa. Cedo ficámos com os pés molhados. Quer dizer, eles ficaram porque eu tinha as minhas botas novas que me deram nos anos e são impermeáveis. Ao longo do itinerário, podemos apreciar muitos animais como cavalos, burros, ovelhas e vacas e testemunhar os primeiros sinais da primavera, bem visíveis nas mimosas perfumadas, nas árvores de fruto já em flor e noutras florzinhas azuis que cresciam selvagens nos muros e rebordos do caminho.
À frente, um desvio obrigou-nos a subir até à linha do comboio desativada e, seguindo por ela, estávamos quase a chegar às Pedras quando o fim do desvio nos mandou novamente para o caminho romano ao longo do rio. Sentimos que fizemos mais alguns quilómetros do que seria suposto, mas caminho é caminho e nós fomos muito obedientes.
À chegada às Pedras Salgadas, impressionou-nos a decadência de um hotel de charme junto às termas. Numa torre desativada, havia um grande ninho de cegonhas. A contrastar com esse abandono, havia um Ecoresort acabadinho de estrear, bem como um hotel &SPA desenhado pelo Siza Vieira. O parque termal é muito bonito e nós não resistimos a passear por lá. Foi então que a minha mãe nos fez uma segunda confidência, muito mais interessante do que a anterior: no dia do seu casamento, ela e o meu pai, acompanhados do meu tio e da sua namorada de então “fugiram” da boda, alugaram um táxi e passaram o fim de tarde naquele parque lindíssimo, a beber bebidas frescas.
Logo que saímos dali em direção a Vidago, passámos pela Quinta de Santiago, eloquentemente assinalada com a imagem do santo peregrino. Subimos depois a Sabroso de Aguiar, onde fizemos o único quilómetro da etapa por estrada nacional para logo a seguir descermos por um monte até ao nosso destino.
Ao longo do caminho, restos de casas abandonadas, vestígios de antigas quintas e campos de cultivo. Já estávamos quase a chegar a Vidago, quando voltámos a ter contacto com a civilização. Com um contraste brutal: ao lado das casas da aldeia, onde gente simples estendia roupa ao sol e almoçava tranquilamente estendia-se um enorme campo de golfe que só terminava no Hotel Palácio de Vidado, onde finalizou a nossa etapa. Centenas de pessoas passeavam-se pelo campo, arrastando os seus carrinhos do material. Muitos faziam-se transportar em veículos motorizados. Homens vestidos de forma muito parecida iniciavam os filhos adolescentes na arte ou aproveitavam para tratar de negócios. O parque automóvel que se seguia denunciava a classe social desses indivíduos, se dúvidas houvesse.

















Nós acusávamos já o cansaço do dia e agradecemos quando vimos as escadas da igreja matriz. Mas não nos chegámos a sentar, o Pedro chegou ao mesmo tempo que nós. Ele saíra de casa dos meus pais de bicicleta e quando chegou a Parada de Aguiar, arrumou no carro que lá deixámos de manhã a bicicleta, dali seguiu até Vidago, tendo chegado no timing perfeito.

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