Hoje de manhã, com o sol a lamber as ruas e a dar brilho aos
cabelos, as pessoas cheiravam todas bem: shampôs de cascatas tropicais e aromas
artificiais combinavam bem com as ruas lavadas pela chuva intensa dos últimos
dias.
Um amolador tinha a sua bicicleta estacionada num canto
daquela rua pedonal, junto a um caixote do lixo. Apanhava guarda-chuvas
estragados e arrumava-os criteriosamente numa rede instalada junto ao quadro da
bicicleta.
Ali, ao sol, ele fazia o rescaldo dos últimos dias,
pedalando para reparar varetas partidas. Sem grande tecnologia, sem ocupar
muito espaço, sem grande publicidade (além do som de uma gaita a anunciá-lo),
ele trazia à rua mais esperança do que o próprio sol.
E a chuva que vier já não
o molhará nesta manhã clara em que ele saiu à rua e ressuscitou destroços.
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