A imagem é bonita: são velhos e vão de mãos dadas. Têm um
aspecto simples e rude, desajeitado, de quem ensinou a vida a ganhar o pão em
cada dia. A contemplação da ternura das suas silhuetas a caminharem assim juntinhos
à minha frente enterneceu-me e lembrou-me as lágrimas que chorei devagarinho há
poucos dias quando vi uma rapariga jovem e bonita a ajudar uma idosa coxa a
atravessar uma rua perigosa. Fiquei tão feliz, como se tivesse encontrado uma
prova irrefutável para comprovar uma teoria: o mundo está mesmo povoado de
pessoas boas.
Rapidamente me aproximei dos velhinhos e quando os
ultrapassei já eles estavam junto ao seu carro. Ele dentro a tentar
abrir a porta dela que do lado de fora resmungava que não conseguia entrar. Ele
esticava-se todo e ia puxando o manípulo, barafustando por seu lado. Quebraram
qualquer coisa naquele momento não na porta, nem no carro, mas no cenário que
tinham protagonizado. Partiram o vidro da moldura engalanada de quadro de museu e
saltaram para a vida concreta, fraca, vil, mas linda ainda assim.
E eu segui, com um sorriso nos lábios, divertida com a
rabugice deles.
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